sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

desencontrários.

A música já tinha começado há tempos. Não te vi. Não sei se me viu.
Mas vi outra pessoa e disse "é ele", mas ele não sabia e nem diria o mesmo. Ela te levou até a mesa. Eu te vi e disse "não é ele". Sussurrei no ouvido de minha irmã e um passa-repassa recado isso chegou aos teus ouvidos e tivemos todo esse desencontrário. Você sentava ao meu lado, caminhava ao meu lado. Eu não notava. Não. Minto. Eu sabia.
Horas passaram. Doces, bebidas, cervejas, música, música e mais música. Encontrei até outra pessoa, que não era você. E nos desencontramos mais uma vez.

E esse fim de festa, e esse fim de festa. Mesma mesa. Você, você.
Quadrinhos, cavalos, cinema e mais cinema. Sinestesia pura.
Não sei, não sei, mas disse: é ele.
É você.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

as coisas são feitas de azul.
são feitas de azul,
e são oito azuis e uma branca
e são redondas e descem fácil
e dão sono.
um sono
que também é azul.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Era ultimamente.

Ultimamente, não tenho tido
tempo de ler meus livros, ouvir
minhas músicas e cantar minhas
canções favoritas.
Também não tenho tido tempo
para abraços longos e dengos
sem hora marcada.
Apesar disso, tenho visto o Sol
nascer com freqüência.
E isso me tem feito bem, ultimamente.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Previsão.

Tenho pensado em você com tristeza.
Não uma tristeza melancólica,
molhada, úmida.
Mas uma tristeza sóbria,
séria, cara fechada,
dentes trancados.
Saber que isso
aconteceria é o que,
de fato, me desespera.

Ultimamente.

Ultimamente tenho tido
mais motivos para lágrimas
do que suspiros.
Também tenho gritado mais,
brigado mais e
me desentendido mais.
Também tenho ouvido
Miles Davis antes de adormecer,
e isso tenho me dado alívio,
ultimamente.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Duvidei delas.
Duvidei que chegariam, duvidei que falariam, duvidei que sorririam.
Duvidei que existissem, até.

E a certeza de que essa dúvida
não passou de uma
miragem.

Duvidar da existência
de certas pessoas, além da tristeza,
é pura bobagem.
Como queria ser um passarinho em dias de Sol
para mergulhar nas poças d'água que
a chuva criou ontem.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

seu próprio lado.

seu relógio atrasado,
azul no azul, listras
no quadriculado.

você, em qualquer horário,
torna o dia mais suportável.

do acaso.

se fosse o caso, pegaria o primeiro vôo
para a cidade maravilhosa e
poria esse amor a toda prova,
se fosse o caso.

se fosse o caso, acamparia durante
horas, sem ao menos olhar o tempo,
madrugada afora,
se fosse o caso.

se fosse o caso, traria o pedido em
suas mãos, embalado na cor
rubra,enlaçado em escudo,
se fosse o caso.

também te abraçaria forte,
vibraria junto,
esqueceria outros amores,
abandonaria tudo.


mas não é o caso.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

calendário.

O fato é que:

apesar de só te ver às vezes,
guardei dois dias já marcados
para o ano que vem.

Não tem como dar errado.

domingo, 25 de outubro de 2009

suas mãos nas minhas minha boca na camisa branca no contraste do vermelho e você dizendo não não dá e deixe isso pra lá e eu pensei tudo bem vamos deixar como está e demos as mãos e nos abraçamos e caminhamos entre árvores depois de sairmos de uma sala tão cinzenta e você pegou o caderno daquela menina loira de cabelos ondulados e ela tão magrinha e sorridente e você escreveu querida aluna como gosto de você e eu me mordia me doía e saí daquela sala com todos olhando para trás e fechei a porta e não voltei e as meninas vieram atrás de mim e logo depois você apareceu e disse que não era bem isso que não poderia demonstrar e te abracei forte e chorei e não disse mais nada porque já sabia o quanto gostava e muito e tanto e nos beijamos e acordei porque foi tudo tão rápido porque foi tudo um sonho.

sábado, 24 de outubro de 2009

meu deus(!)

Não te olhei de imediato. Brinquei com os ângulos, olhei para os cantos, olhei para os lados. Ainda que distraída, sabia que me veria. Aquele meu óculos, tão conhecido seu, estava escondido sob uma porção de risos sufocados. Sua risada contida tornou aqueles poucos segundos memoráveis. Seu cabelo tão preto, recém-cortado, em contraste com sua pele sem lembranças do Sol: não desviei um minuto. Seu rosto ganhou uma coloração rosada, já que prendia o riso, e sua gargalhada ficou nas entrelinhas de seus olhos sorrindo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

dia 30.

"Nos olhamos dentro dos olhos esverdeados de mar, nos achamos ciganos, suspiramos fundo e damos graças por este ano que se vai"

Caio Fernando Abreu.


Um ano e seis meses de querer bem, meu bem querer.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Te guardei em cada coisa intangível.
Te guardei na memória, marcador de livros.
Te guardei no fundo do meu armário,
ao lado de cada caso de amor
impossível.

é isso.

E no dia que você lembrou meu nome, eu não acreditei. Você disse meu nome e eu me perguntei como e você disse que era tudo muito simples. E essas conversas que começaram em nenhum lugar para chegar a lugar nenhum. Não sei onde fico nessa história toda. Tenho gosto de goiaba na ponta dos dedos, agora. Não que eu goste do formal, do clássico, do engravatado. Não que eu goste das cores preta e vermelha combinadas. Não é que eu goste de tudo isso, mas por algum motivo, me encantei com você. Não que encantar seja a palavra certa. Acho que me afeiçoei a você. É, é isso. Não que eu olhe para sua pele extremamente branca, suas unhas meticulosamente bem cortadas e não imagine seu cheiro de sabonete fresquinho. Não é que eu não observe seus gestos calculados e suas palavras medidas centímetro por centímetro. Talvez você tenha chegado de uma maneira contrária a tudo que você é: desmedido, desprevenido, devastador. Uma invasão sutil através de horas de estudo a fio.

Não que tudo isso importe, mas achei que você deveria saber, de qualquer sorte.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quarta-feira.

"O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu"

Caio Fernando Abreu.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

pique-esconde.

pisei suave,
porque assim
você queria
quando eu
passasse.

floresci algodão,
porque não
sabia o que seria
quando os flocos
tocassem o chão.

respirei relva,
porque, antes
de ser sombra,
fui também lembrança.

falei baixinho,
porque você
só é silêncio
em qualquer
canto.

rabisquei recados,
arrisquei fotos,
atravessei o mato,
fui atrás de ti que,
no final das contas,
era apenas um felino,
apenas um gato.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

outros caminhos roseanos.

você: longe, de viagem,
distante, outros passos,
outros caminhos,
outras paragens.
você: cão sem dono,
hippie moderno,
itinerante de
outros tempos,
vindo do inferno.

você, que está só de passagem,
me esqueça por esses tempos
e me encontre na terceira
margem.

nostálgica.

vi um tapete longo
de flores brancas e
amarelas:
fui eu,
foi você,
foi setembro,

foi a primavera.

domingo, 11 de outubro de 2009

verdade.

quero saber que som tem a sua lágrima ao tocar no chão:
se é silenciosa ou vai mais além.

ex.

preferia quando era apenas uma imagem,
uma possibilidade de não-ser,
uma possibilidade
e não você.

preferia a cor da tarde de sol
de um domingo
a esse sábado chuvoso
que costumava ser meu
preferido.

preferia uma mentira fácil,
com perfumes fracos,
com memórias rápidas.

preferia isso:
não te conhecer
a você saber
que nem existo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Baú.

Achei que, entre
tantas outras
palavras, guardasse
um segredo.
Revirei livros,
rasguei páginas,
abri todas as portas:
assim, sem medo.
Depois de olhar
a última gaveta,
já não havia
quem soubesse,
já não havia
quem amasse,
já não havia
quem calasse,
esse segredo.

Alguém tem que ceder.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Don´t let me be misunderstood.

Quando o dia pede abraços, carinhos, você, você. Quando o dia é mais uma das datas que tenho em mente sempre ao acordar. Quando o dia é hoje, mas poderia ter sido ontem e daria igual. Quando o dia está ensolarado e você insiste em usar preto e eu azul, sei que algo não está bem. Sei que algo está errado há tempos. E talvez seja comigo. Ou com você. Mas talvez seja comigo mesmo. Meu coração anda fora de lugar e, mesmo sendo tão clichê, é o que tem ocorrido. Você some. E meu coração, não sei, decide conhecer outras bandas. Talvez não seja justo, talvez não seja honesto. Mas, veja bem: você some. E sei que isso pode não justificar tudo. Quando o dia pede sua presença, por meio de lembranças ou cartas, não sei onde está você. Algo não vai bem, sei disso. Agora, enquanto escrevo isso, sei que em breve você não estará em casa. E antes de escrever isso, ouvi gritos no lugar de dengos. Algo não vai bem, sei disso. E o problema é comigo? Yo creo, corazón, que estoy muy lejos ahora.

Mas não me entenda mal.

domingo, 27 de setembro de 2009

Absurdidades.

E foi o que ela disse. E era sábado à noite e a descrição se encaixava perfeitamente. Essa noite, esse sábado, essa festa. Absurdidades. Não poderia encontrar uma palavra que melhor descrevesse o que sinto esses dias: sábado à noite, via de regra, é um dia de absurdidades muitas. Há algo além da compreensão do meu horóscopo que transforma esse dia em algo impossível de prever. Há algo que não me espera. Entre uma música e outra, há algo que acontece: ultrapassa os sentidos, desespera. E, depois de um tempo, chama por mim. Esse mesmo algo que eu não vi. Não antes. Não depois. Um durante incalculável de um relógio parado. É nesse instante em que me deparo com absurdidades. E sou obrigada a aceitá-las, dentro do limite do imprevisto.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Perdões mil.

E culpado é uma palavra tão forte para dizer. Para dizer:

Eu não queria. Juro. Quando disse o que disse, quando pensei o que pensei ou senti o que senti, não era o que queria. E juro. É saber que não pude controlar nem meus dedos nem pensamentos, nem meus olhares, nem minhas fugas. Era noite, era dia, era você, a todo momento. E isso é tão piegas quanto dizer que te esquecerei esse final de semana, que não farei carinho nos seus cabelos, que não vou olhar seu sorriso até fotografá-lo e tê-lo memória eterna. E seu sorriso, e seu sorriso. Seu sorriso existe no quando que espero durante as manhãs. Existe quando silencio, porque só esse mesmo sorriso me emudece. E sei que não devo dizer isso, que não devo...Alguma coisa diz que nada devo. Nem a ninguém, nem a ninguém. E penso que é domingo, que há uma espera entre o dia santo e entre os dias que te vejo. E te ver todo dia é ainda esperar. Uma espera grande, enorme. Tamanho de cada abraço. Tamanho pequenino. De caber no meu peito ou em um frasco. E eu não queria, juro. Ter em mim algo desse jeito, tanto sentimento e tanto absurdo.
Então: olhei para os lados, olhei para frente, olhei para dentro, olhei para você.
E desisti de tudo. E esqueci de tudo.
Porque é melhor assim.
E me sinto tão boba, tão boba.

Enfim.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Before I knew

"Oh,
it was the first time I fell in love
the first time I felt my heart
it was the first time I sang out loud all through the night
but before I knew I was lost,
before I knew I was a prisioner
and I still can't find a way to make it right"


Basia Bulat.


Socorro, meu bem.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que diria a mim, tempo, se te dissesse que isso não vai passar. O que diria a ele, tempo, se soubesse que há um tempo só faço esperar. E o tempo, tempo, que não anda, que não corre, que demora, que é tempo danado, que faz anos, que faz horas.
Ai, que tempo mais agoniado!

Passa logo, tempo.
Que preciso ir embora.

sábado, 19 de setembro de 2009

Atravesso esse sertão
de ventanias e perigos.
Vejo tanto, coração,
por todo canto:
há sertão
há sertão
e nenhum
abrigo.

Tudo que desejo
é alguém líquido que,
depois da calmaria,
desacelere o meu ritmo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Não quero você hipertexto,link para uma realidade com erro na página. Não quero você palavras calculadas, timidez disfarçada, materialização do virtual. Não quero você pixels, megabites, html de um layout inacabado.

Quero você real: assim fica explicado.
No se puede cambiar las fechas o los nombres de los muertos, dicen las viajs de mi calle. No creo en nada que me digan. Mienten siempre - casi nunca veo conejos en sus casa. Y los conejos blancos traen suerte, todos los saben. Año pasado, mi madre murió de soledad. Vivía sola. Un pajáro rojo me ha dicho que ella hacía té de rosas toda noche después de ver un película triste. Y llovia siempre que la visitaba. Desde su muerte, he escrito nombres en la pared de mi cuarto. Nombres de mujeres rubias. Mi madre se llamava Julia, pero ayer ya se llamó Maria. La semana pasada yo la he llamado Pilar. Las fechas de su muerte cambian como la luna o los colores de mis ojos: la primavera es la mejor época para morir, creo yo. La verdad es que mi madre murió en abril, pero prefiero pensar que murió en junio, para que viva un poco más. El pájaro rojo tambiém vive conmigo ahora. Hoy mi madre se llama Luiza y el pájaro llora en sus cenizas mientras yo tomo un té de rosas con las viejas de mi calle.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Era Sol, era terra, era vento, era cedo, era você. Havia um caminho. Ou dois. Ou três.
E assim seguíamos. E não tinha mais importância: dá igual, dá igual. E sua mão.
E a hora. E o tempo. E o tempo...

Era Sol, era cedo: é você.

E não sabia o que fazer com isso.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Você ainda é pequenino:
eu, menina,
tu, menino.
Você é ainda é calado,
um tanto quanto tímido:
eu falo para você,
querido.
E se ainda não te sufoquei
de abraços, de desassossegos,
é porque ainda não capturei
o sorriso além do silêncio.
Seus versos, menino,
são enormes em mim.
Você, pequenino.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

E quando disse o que disse, acendi uma vela de aroma antigo e escrevi cartas para você. E quando disquei aquele número, o telefone não mais existia e algo não me caía bem. E quando cheguei em casa, algo havia desaparecido. E eu já não estava mais lá.

domingo, 6 de setembro de 2009

Hiperbólica

Sem saber,
provoquei enchentes
em mares calmos.
Lancei profecias
a sete ventos.
Palavras demais,
abraços demais,
sorrisos demais.
Tudo me sobra,
tudo me excede,
tudo em mim
transborda.
E, quando calo,
é o silêncio que
me falta.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Temporal

Fui um rio
desesperado
de águas turvas,
incontidas em
cada momento,
em cada curva.
Fui também lago:
estanque, espelho,
retrato.
E mais: fui lágrima.
Antes de rio,
antes de lago,
antes de lágrima:
fui chuva em todos os estados.

Frequência Visível

De sete cores
são seus olhos
quando chove:
iluminados.
E fica tudo
tão claro,
em um arco
imaginário.
Tesouros meus
são seus olhos:
espectro visível
quando chove.

sábado, 15 de agosto de 2009

Depois da terceira saudade, todo suspiro tem gosto de vertigem. Alma indigesta, olhos marejados virgens.

Acenei para o passado com passagem comprada.

domingo, 9 de agosto de 2009

Tempos.

Sem saber dos dias, tentei acordar antes da segunda-feira. Mexi os dedos em um movimento um tanto quanto sincronizado e passei os olhos no livro que me convinha. Não era tarde. Não era cedo. E não me preocupei em contar as horas, que líquidas corriam.

Ou não.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

domingo, 2 de agosto de 2009

I´d rather dance, than talk with you.

Porque era noite e eu nada sabia. Porque vi você, de longe, e, ainda assim, nada sabia. Porque quando te dei a mão, e meus dedos eram seus, os seus eram meus, lembranças mil passaram em mim. Porque quando te abracei forte - e o perfume era o mesmo - enquanto dançávamos, eu já sabia. E amava seu cheiro. E mesmo depois de chorar bobagens minhas e suas, amava seu cheiro.
E amava você. Mas era noite: e eu nada sabia.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Resposta

Laura,

Não sei o que me fez partir assim. Estou roendo minhas unhas de dois em dois dias e mesmo que elas estivessem em carne viva - ainda assim - não me daria por satisfeita. Aquilo que disse, com raiva, era mentira. E tem sido uma mentira desde que cheguei aqui. A mala está jogada em um canto, porque ainda não encontrei forças - nem vontade - de arrumar as roupas e os sapatos. Estou tão bagunçada quanto minha mala. E tão velha quanto. Não encontrei o que procurava. E digo: ele ainda não me encontrou. Aquelas cartas longas e aqueles postais - tudo, tudo deveria ser esquecido. Ou pelo menos queimado em algum quintal. Não tenho novidades mornas ou frias. O porta-retrato que você me deu está em cima do criado mudo, exatamente onde deveria estar. Eu que não sei onde eu deveria estar. E é exatamente aqui.

Carinho,

Sua.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Jesus.

Desprevenidos já somos, meu bem, e, desde que nos conhecemos, não poderíamos ser de outra maneira. E isso - é, já sabe - é o que chamamos de aula de gramática útil. Ou almoço em Saturno. Lembro assim: você, eu, aquela cor verde fugitiva e aquele sorriso - aquele sorriso. O mesmo que disse Lelê ou falou algo sobre minhas bochechas. Faz tempo. E desde então somos desprevenidos: com as horas, com as mãos, com os dengos.

É bem simples: peço sempre, de mãos juntas e joelhos dobrados.
Há três anos, diga-se, e não faço por menos. Três meses, sei bem. E viajei e um ano e números e números. Não. Permaneci imersa - entre essa e tantas outras - palavras de aconchego. Aquelas: dizemos quando partimos, dizemos quando voltamos. E nunca sabemos quais são - quando realmente necessitamos delas. E não esqueço enquanto escrevo. Anjos de porcelana e vinil.

Não suporto mais datas.

domingo, 12 de julho de 2009

Correspondências.

Querida Eduarda,

Por aqui não tem chovido como esperado. Ainda assim, lembro dele no impossível. Essa semana experimentei um receita nova de torta italiana e ficou ótima. Os convidados gostaram e desistiram de comer apenas torradas. As amendoeiras estão vistosas. Não há um dia em que não pense em você, querida. Ontem saí com os amigos de Paulo. Assim: nada de novo. Cerveja, como o usual. Encontrei uns velhos amigos enquanto passeava pela Praça 18 de Agosto. Perguntaram por ti. Disse que voltava logo - ou pelo menos, assim espero. Na quinta-feira, fui fazer compras pela tarde e encontrei aquele vestido florido que tanto procurava. Quando voltar, podemos sair juntas para o Cais ou o que você preferir - Paulo não poderá fazer nada. As crianças estão animadas, como sempre. Esperam ganhar presentes de natal e ver neve algum dia. Até mesmo pela televisão. Cuidei para que suas coisas não ficassem empoeiradas. Fica bem.

Com carinho,

Laura.

domingo, 5 de julho de 2009

Peço para me dizer algo bonito e você responde com meu nome.

Perigos.

Quando decidi abrir aquela caixa com tons de azul perto do cinza, não calculei. Encontrei cartas antigas e um papel com seu nome assinado: te amo, te espero.

Avisos.

Na primavera do ano passado, me perguntaram sobre o efeito da lua minguante no horóscopo. Depois, procurei revistas especializadas e pouco encontrei - tudo sem parecer exagerado. Ainda com suspeitas do que essa descoberta provocaria, decidi ligar para um tia que mora em Belo Horizonte. Disse para ter cautela, que com os astros não se brinca, tomar um banho de ervas toda quinta e acender uma vela de sete dias assim que desligasse. É uma crendice boba, respondi, mas ela parecia firme no propósito de me afastar da encrenca do zodíaco. Saí na rua e comprei o primeiro jornal que vi e não perdi tempo: lua em saturno, urano, plutão.Estrela Dalva no sétimo círculo com previsão para tempestade nos domingos. Tremi. A noite caiu e a lua minguante acenou no céu. Era outono. Nunca saberei o efeito dessa lua no meu horóscopo, pensei, e fui comprar uma vela.

Amendoeiras.

O outono me derruba e sinto cheiro de amêndoas por onde passo.
Setembro vazio. Memórias suas.

Cegueira blues.

Cegueira azul e dançarina: seus olhos em meio ao São João.
Sua trança e seu brinco prata na orelha direita - palmas, palmas.
Algo entre a latina-américa e seus olhos.
Rapaz, dono desses olhos, te convido para um blues.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Datas.

Aniversário de meu bem.
Saudades à flor da pele.
São Paulo, janeiro. Fernanda Takai canta Nara Leão em mim. Adormecidas horas. São Paulo, junho.
Silêncio agradável e frio; saídas na chuva. Janelas.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lemon Tree.

Das canções que tenho ouvido, você está entre as mais queridas.
Dos desenhos que tenho visto, dá alegria olhar para minha camisa.
Das pessoas que tenho me encantado: você.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Obituário.

Cantor Michael Jackson morre aos 50 anos.

(Silêncio)

It´s raining in my heart.

Vi bichinho hoje.

domingo, 21 de junho de 2009

E a coisa mais certa de todas as coisas não vale um caminho sob o sol.

Sorte no amor, azar no jogo.
E não me desespero.
Tempo ainda há.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Previsões.

Terça, 9 de Junho de 2009
Os resultados do trabalho aparecem. Apoio de grupos ou de amigos. Intensificação de sentimentos e do vínculo emocional. Parcerias se firmam. Encanto, magnetismo. Alto poder de atrair as pessoas e as circunstâncias que lhe favoreçam. Brilha numa equipe, na sociedade, nos relacionamentos.
É necessário conversar sobre aspectos delicados envolvendo parcerias, negócios, amizades ou grupos. Sente que há algo misterioso que paira no ar e deve deixar tudo claro. Será instigado a expressar-se com mais criatividade e inspiração, para ter o apoio que merece, nativo de Câncer.

Ai, ai.
De vez em quando eu até gosto do meu horóscopo.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Bom, a pedido de Samory, responderei a um questionário. Uma brincadeira entre blogueiros.

As regras são:
1- Colocar o link de quem te indicou
2- Escrever as regras do jogo para a brincadeira ficar mais clara
3- Indicar 3 blogueiros para dar continuação à essa bodega
4- Avisar quem foi indicado

Brincadeira :

Há 10 anos atrás:
× Gostava de fazer maquetes.
× Tinha alergia a chocolate.
× Tinha uma professora chamada Lurdes.
× Gostava de brincar com miniaturas.
× Tomava Quick ao invés de Nescau.

Há 5 anos atrás:
× Eu dei meu primeiro beijo.
× Mudava mais uma vez de colégio.
× Conheci Victor, um dos meus melhores amigos.
× Tomei raiva de certaz pessoas.
× Comecei a ouvir "rock".

Há 2 anos atrás:
× Acreditei em amor eterno.
× Fiz intercâmbio.
× Morri de saudade.
× Decidi fazer jornalismo ou psicologia.
× Fiz promessas.

Ontem:
× Acordei tarde, mais uma vez.
× Fui pra minha aula de espanhol.
× Gravei um vídeo para o dia do espanhol dizendo que minha palavra favorita é calcetines.
× Comi crossaint.
× Meu professor lembrou meu nome.

Hoje:
× Não tomei café da manhã.
× Não estudei ainda.
× Ananda não confirmou se vem dormir aqui em casa.
× Vou para a psicóloga.

Amanhã:
× Vou para um aniversário.
× Vou dançar muito no baile esquema novo.
× Vou conhecer os amigos de Zé.
× Vou beber uma cervejinha.
× Vou chegar em casa tarde.

Coisas que eu não vivo sem:
× Livros.
× Música.
× Chuva.
× Zé.
× Telefone.

Coisas que eu compraria com 1.000 reais:
× Uma câmera fotográfica nova.
× Livros.
× Uma viagem.
× Ingresso para shows.
× Um cachorro.

Maus hábitos..:
× Comer muito pela noite.
× Falar com gente estranha.
× Falar muito alto.
× Falar demais.
× Dormir só com o ventilador ligado.

Programas e tv :

× N/A
× N/A
× N/A
× N/A
× N/A

Coisas que me assustam:
× Minha mãe.
× Insetos andando sobre mim.
× Minhas notas.
× Eu.
× Meu colega de Direito .

Lugares que eu gostaria de ir:
× México
× Espanha
× Ouro Preto
× Holanda
×Itália

Pessoas indicadas:
× Maria e as baleias.
× Fred.
× Aline.

Prontinho. ;)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Detalhes ou Heavy Metal Drummer

Ainda não me sai da cabeça: aquela sexta, aquela energia,aquela mesa.
Tampouco me acostumei com a idéia de poder te ligar.
Tudo isso é novo para mim.
E traz uma sensação boa.

São detalhes.

domingo, 10 de maio de 2009

Madrugando.

"No entanto também escrevi coisas assim, para pessoas que nem sei mais quem são, de uma doçura venenosa de tão funda."

(Ana Cristina César)
É, você. Fecho os olhos e escuto. Escuto você. É domingo tão domingo quanto os outros. Talvez o fato de ser dia das mães torne esse domingo menos domingo que os outros. Um domingo com cara de shopping colorido de embalagens e sugestões para presente. Não, não fui no shopping este ano. Mas imagino: e estará tão igual quanto todos os outros anos. É, você. Quando amanheço, é você quem procuro. E quando adormeço, é você. Penso em ti. E seus olhos, e sua barba, e seu sorriso. E você.Quanto tempo eu demorei para encontrar meu outro tipo de felicidade, meu bem.
É: você.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Durante muito tempo, o outono foi minha estação do ano mais querida. E durante um ano, vi as estações passarem nítidas diante de meus olhos. Era outono: e as folhas eram vermelhas, laranjas, amarelas. Era outono: e o chão estava forrado delas. É outono: e chove. Talvez o outono nunca tenha deixado de ser o que de melhor há em mim. Meus outonos estão impregnados de memórias e permanecem assim.
Dia de café e teatro. Nada mais aconchegante para um dia de chuva. Um encontro que há um ano atrás seria improvável ou até mesmo impossível. Depois de revirado o horóscopo, as runas e as cartas, esse acontecimento intergalático ocorre nesse mesmo dia oito. As datas. Sempre as datas. Não consigo me desfazer delas. E aliás: não pretendo esquecê-las. Hábito antigo.

Acordei tarde. Ou bem dizendo: acordei cedo, com um telefonema. Posso desejar, ainda, que essa voz me desperte todos os dias. Ao meu lado. Enfim. Ainda chove e me agrada o barulhinho que a chuva faz ao encontrar a terra, o chão. A vontade é de fazer mais chá e ler a tarde toda. Dias de chuva foram feitos para romance,creio. Ainda assim, com tanta notícia de tragédia, não consigo odiar a chuva, essa parte de mim.

Daqui a pouco devo partir.
Ainda cedo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Chove muito. E me sinto em casa.Durmo com uma orquestra e acordo com uma serenata: tudo preparado minunciosamente para durar e permanecer. E permanece. Não maldigo os dias chuvosos: eles são meus e me sinto em casa. A cor cinza que pincela o céu é o desdobramento dos delírios que tenho ao anoitecer. Hoje chove com uma vontade assustadora de despertar. Ouço crianças gritando na creche que fica ao lado da minha casa e me distraio. Elas fazem parte do coral preparado minunciosamente para durar e permanecer. E permanece. Os transtornos causados pela chuva estão nas capas de jornais. A água toma conta do asfalto, das ruas, de mim. Mas isso não sou motivo para notícia. Porque chove muito e me sinto em casa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Óinc,óinc.

Sou o primeiro caso de gripe suína registrado na Bahia.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Não é difícil perceber quando encontramos pessoas especiais. Geralmente, elas aparecem disfarçadas de alegria enluarada; outras vezes, de sol amarelinho. Também não costumam fazer alarde: parece um pouco sutil, mas sorriem como se escondessem um sorvete maior do mundo. Não é difícil perceber quando encontramos esses pedacinhos de flor em nosso caminho. Aparecem, normalmente, para desatar todos aqueles laços que embalam nossos presentes. E abrem, sem dó, aqueles pacotinhos que esquecemos debaixo do cogumelo em nosso jardim. Do lado de cá, encontrei pessoas que afinam seu pensamento com o meu, ou desafinam em descompasso. O que fazer quando as conheço? As capturo ou esqueço? Vai saber. Não é difícil perceber quando encontramos pessoas especiais. Uma gota de orvalho em você.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um ano de querer bem.

É isso. :)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Faço rituais para não esquecer o passar dos tempos.Quando há silêncio, rabisco uma carta;quando há sufoco,também.E não me desespero no desencontrar das linhas.Antes da madrugada de hoje,espero ainda encontrar fotos e nelas, memórias imperecíveis.Já vasculhei cartas,bilhetes, versos: tudo em um refrescar sutil, de dedilhar palavras assim.Certas coisas costuro na pele,uma espécie de aroma impregnado,um momento de alinhar o que tenho.Faço rituais,então: e não esqueço que já é hora de.

sábado, 25 de abril de 2009

Uma hora da manhã. Regina Spektor embala essa madrugada iniciada em frente ao computador. Hoje é dia 26 de abril e faz um ano. Há um ano atrás era uma dia de sábado e assistia uma aula de gramática pela manhã. Sim, faz um ano. Faz um ano que sentei ao lado dele - e dessa vez não ofereci biscoito. E ele saiu, assim, depois de um beijo, e um ei, me dá seu e-mail. Pois. E a tarde de sábado estava fechada: não tinha mais um espacinho para estudo, para televisão, computador ou telefone. Ou o que fosse. E dessa mesma maneira, meus dias passaram iguais durante um ano. Uns dias mais longos e demorados, depois de um almoço e uma soneca tão desperta quanto. Uns dias mais curtos, tomados pelo estudo. Uns dias birrentos, quando só queria mesmo era dengo. Uns dias de boemia, entre uma cerveja e outra, risadas soltas, manias. Uns dias de saudade, de querer se ver e de não poder. Uns de gritar à toa, de briga sem motivo. Uns dias de chuva:meus favoritos. Uns dias de piadinhas bobas, outros de palavras mais bobas ainda, ao telefone. Uns de eu te amo, outros de eu te quero. Uns de de vamos fugir, outros de vamos ficar. Uns de amor e outros de amor também. E fica assim. Tempo vai. Tempo passa. Uma hora da manhã.Regina Spektor ainda no som. Tempo vai. Tempo passa. Ele fica, permanece e embala essa madrugada.
Algumas coisas, de fato, são assim. Assim mesmo: difícil de esquecer, de dormir sem pensar, de apagar do pensamento. Ainda agora, desisto; nem mais tento. Cabelos curtos, cigarros e uma cafeína impregnada: antigüidades.Não mais.Retornam fácil, fácil. Talvez não tivesse abandonado nunca essas necessidades tão pueris. Coisas bobas, mesmo. dobrar papéis, fazer pulseiras e brincar de arte: é desejo, vontade. Com um tempo tão acabrunhado, sem jeito, ando sem escrever, sem poetar, sem ler, sem mim. Saudade do tempo: tempo esticado, de preguiça, pra alongar e deixar até o alvorecer, sem piscar. Sem arrependimentos. Pensei ser possível tragar o tempo e desdobrá-lo com as mãos. Pensei ser possível tocar com as pontas dos dedos suas horas translúcidas e efêmeras e capturar os minutos com suspiros. Pensei ser possível. Devaneios, delírios. Pensei ser possível: deixar esse mesmo tempo atravessar a rua, lado a lado, enquanto o segurava, ainda que bruscamente, e escapulia, como quem ama o desespero, a agonia.Depois de debruçar meus olhos em papéis azuis milimetricamente recortados, chegou a hora de produzir estrelas: um presente para um outro tipo de estrela. Iluminada.

domingo, 12 de abril de 2009

O cinza do céu
de São Paulo
é poeira ou é
nuvem cor
de asfalto?
Imagina, invagina:
umidade, lá, quente
saudade da menina
que está ausente
na nova sina.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cabeça ao vento,
pensamentos frescos:
nem paz,
nem tormento.

terça-feira, 31 de março de 2009

Assim como anoitecer, fecho meus olhos imaginando musicar os suspiros azuis e longos. Permito janelas abertas e luzes acesas até o amanhecer. Iluminada, delirante, sigo com as promessas feitas ao longo da última temporada: conversas divinas,senhor. Ainda não terminei de arrumar meu peito que bate assim, assim. É bagunça tanta que desconverso enquanto posso. Tranco os batuques e retorno ao ponto inicial: assim como anoitecer. Não soube o que fazer com as horas que vagaluminavam meus dias. Capturei algumas; outras, deixei escapar. Dedos trêmulos e incertos tateavam cegos pequenas asas que debatiam-se sonoras frente a meus olhos infindos. A luz me abraça e clareia medo de memórias infantis. Não traço limites para essa casualidade astrológica: é choque de previsões não escritas. Acaso que prefiro não discutir, acaso que dita a mim, acaso que é, porque sendo acaso, é assim. As madrugadas espreguiçam-se na janela em um frescor matinal: assim como anoitecer, retorno ao princípio. E sei que estou presa as horas mornas desde o início.
Para caminhar passos longamente espreguiçados ao sul só tomando rumo certo: adiante, pés descalços e chão nuinho. Decidir pela rota entre cortada por canários foi ato de desespero último. Aviso há por todo canto e em todo aviso muito encanto há - só não atrevo mais desditos por fé muita. Amarrada em amuletos, pensamentos cavalgantes: à flor da pele, transporto cartas, envelopes frouxos, mensagens satélites. Lunares terrenos onde piso sem contorno, sem paz, sem aviso para chegar em um destino desfeito em mistério, em sorriso. É tudo um pouco, um pouco disso. Os canários alertam em vôos rasantes e sei que as horas derramam, orvalham frias no amanhecer, e por isso entendo: devo me apressar. Não há atalhos transpirantes e meus pés florescem tímidos ao tocar a correnteza de mel triunfante. Uma doçura. Depois de caminhar léguas seguintes, conto os passos em melodia. Não tenho tempo para chorar lágrimas corridas da pressa, corazon. Olhos marejados são antiguidades de uma delícia rara de tão funda. Não desaguo sem aviso: só derramo quando te olho, quando chego e digo. Digo: assim, interminável jornada de meus amores, trago-te canários, temperos e flores. Escrituras translúcidas e breves, aqui estão. Entre essa correspondência completa, me entrego aos braços e insisto em dizer que por ti tudo o quanto há, faço.