sexta-feira, 24 de julho de 2009

Resposta

Laura,

Não sei o que me fez partir assim. Estou roendo minhas unhas de dois em dois dias e mesmo que elas estivessem em carne viva - ainda assim - não me daria por satisfeita. Aquilo que disse, com raiva, era mentira. E tem sido uma mentira desde que cheguei aqui. A mala está jogada em um canto, porque ainda não encontrei forças - nem vontade - de arrumar as roupas e os sapatos. Estou tão bagunçada quanto minha mala. E tão velha quanto. Não encontrei o que procurava. E digo: ele ainda não me encontrou. Aquelas cartas longas e aqueles postais - tudo, tudo deveria ser esquecido. Ou pelo menos queimado em algum quintal. Não tenho novidades mornas ou frias. O porta-retrato que você me deu está em cima do criado mudo, exatamente onde deveria estar. Eu que não sei onde eu deveria estar. E é exatamente aqui.

Carinho,

Sua.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Jesus.

Desprevenidos já somos, meu bem, e, desde que nos conhecemos, não poderíamos ser de outra maneira. E isso - é, já sabe - é o que chamamos de aula de gramática útil. Ou almoço em Saturno. Lembro assim: você, eu, aquela cor verde fugitiva e aquele sorriso - aquele sorriso. O mesmo que disse Lelê ou falou algo sobre minhas bochechas. Faz tempo. E desde então somos desprevenidos: com as horas, com as mãos, com os dengos.

É bem simples: peço sempre, de mãos juntas e joelhos dobrados.
Há três anos, diga-se, e não faço por menos. Três meses, sei bem. E viajei e um ano e números e números. Não. Permaneci imersa - entre essa e tantas outras - palavras de aconchego. Aquelas: dizemos quando partimos, dizemos quando voltamos. E nunca sabemos quais são - quando realmente necessitamos delas. E não esqueço enquanto escrevo. Anjos de porcelana e vinil.

Não suporto mais datas.

domingo, 12 de julho de 2009

Correspondências.

Querida Eduarda,

Por aqui não tem chovido como esperado. Ainda assim, lembro dele no impossível. Essa semana experimentei um receita nova de torta italiana e ficou ótima. Os convidados gostaram e desistiram de comer apenas torradas. As amendoeiras estão vistosas. Não há um dia em que não pense em você, querida. Ontem saí com os amigos de Paulo. Assim: nada de novo. Cerveja, como o usual. Encontrei uns velhos amigos enquanto passeava pela Praça 18 de Agosto. Perguntaram por ti. Disse que voltava logo - ou pelo menos, assim espero. Na quinta-feira, fui fazer compras pela tarde e encontrei aquele vestido florido que tanto procurava. Quando voltar, podemos sair juntas para o Cais ou o que você preferir - Paulo não poderá fazer nada. As crianças estão animadas, como sempre. Esperam ganhar presentes de natal e ver neve algum dia. Até mesmo pela televisão. Cuidei para que suas coisas não ficassem empoeiradas. Fica bem.

Com carinho,

Laura.

domingo, 5 de julho de 2009

Peço para me dizer algo bonito e você responde com meu nome.

Perigos.

Quando decidi abrir aquela caixa com tons de azul perto do cinza, não calculei. Encontrei cartas antigas e um papel com seu nome assinado: te amo, te espero.

Avisos.

Na primavera do ano passado, me perguntaram sobre o efeito da lua minguante no horóscopo. Depois, procurei revistas especializadas e pouco encontrei - tudo sem parecer exagerado. Ainda com suspeitas do que essa descoberta provocaria, decidi ligar para um tia que mora em Belo Horizonte. Disse para ter cautela, que com os astros não se brinca, tomar um banho de ervas toda quinta e acender uma vela de sete dias assim que desligasse. É uma crendice boba, respondi, mas ela parecia firme no propósito de me afastar da encrenca do zodíaco. Saí na rua e comprei o primeiro jornal que vi e não perdi tempo: lua em saturno, urano, plutão.Estrela Dalva no sétimo círculo com previsão para tempestade nos domingos. Tremi. A noite caiu e a lua minguante acenou no céu. Era outono. Nunca saberei o efeito dessa lua no meu horóscopo, pensei, e fui comprar uma vela.

Amendoeiras.

O outono me derruba e sinto cheiro de amêndoas por onde passo.
Setembro vazio. Memórias suas.

Cegueira blues.

Cegueira azul e dançarina: seus olhos em meio ao São João.
Sua trança e seu brinco prata na orelha direita - palmas, palmas.
Algo entre a latina-américa e seus olhos.
Rapaz, dono desses olhos, te convido para um blues.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Datas.

Aniversário de meu bem.
Saudades à flor da pele.
São Paulo, janeiro. Fernanda Takai canta Nara Leão em mim. Adormecidas horas. São Paulo, junho.
Silêncio agradável e frio; saídas na chuva. Janelas.