Nem lembro: os dias passavam e eu, já sem tempo, não olhava mais. Ou olhava. Ou não olhava. Ou olhava e não via. Nem lembro: havia uma varanda, havia um horizonte, havia. Havia tudo e tanto e você tudo mirava, com uma seriedade de outros tempos, com seu silêncio inabalável, com sua paz atormentada. Nem lembro: esperei a chamada, descobri seu nome, suas pernas, sua rotina.
Você sorri e sei que você sorriu porque você sorri como se calasse e faz silêncio como quem sorri. Você sorri e seus olhos também sorriem e sei que sorriu porque olha como se tocasse o tempo e abraça como quem sorri.
E todo o sorriso é um sem-jeito, um desencontro dos olhos, dos silêncios, dos abraços, das horas.
Naquela esquina, há um encontro - que não é mais ilusão de óptica.
Abril que é abril é assim: outono, muita chuva e algum amor na esquina. E o problema é justamente esse: eu nunca estou pronta quando te vejo. Tenho medo de tudo isso e de tantos outros detalhes.