quarta-feira, 28 de outubro de 2009

calendário.

O fato é que:

apesar de só te ver às vezes,
guardei dois dias já marcados
para o ano que vem.

Não tem como dar errado.

domingo, 25 de outubro de 2009

suas mãos nas minhas minha boca na camisa branca no contraste do vermelho e você dizendo não não dá e deixe isso pra lá e eu pensei tudo bem vamos deixar como está e demos as mãos e nos abraçamos e caminhamos entre árvores depois de sairmos de uma sala tão cinzenta e você pegou o caderno daquela menina loira de cabelos ondulados e ela tão magrinha e sorridente e você escreveu querida aluna como gosto de você e eu me mordia me doía e saí daquela sala com todos olhando para trás e fechei a porta e não voltei e as meninas vieram atrás de mim e logo depois você apareceu e disse que não era bem isso que não poderia demonstrar e te abracei forte e chorei e não disse mais nada porque já sabia o quanto gostava e muito e tanto e nos beijamos e acordei porque foi tudo tão rápido porque foi tudo um sonho.

sábado, 24 de outubro de 2009

meu deus(!)

Não te olhei de imediato. Brinquei com os ângulos, olhei para os cantos, olhei para os lados. Ainda que distraída, sabia que me veria. Aquele meu óculos, tão conhecido seu, estava escondido sob uma porção de risos sufocados. Sua risada contida tornou aqueles poucos segundos memoráveis. Seu cabelo tão preto, recém-cortado, em contraste com sua pele sem lembranças do Sol: não desviei um minuto. Seu rosto ganhou uma coloração rosada, já que prendia o riso, e sua gargalhada ficou nas entrelinhas de seus olhos sorrindo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

dia 30.

"Nos olhamos dentro dos olhos esverdeados de mar, nos achamos ciganos, suspiramos fundo e damos graças por este ano que se vai"

Caio Fernando Abreu.


Um ano e seis meses de querer bem, meu bem querer.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Te guardei em cada coisa intangível.
Te guardei na memória, marcador de livros.
Te guardei no fundo do meu armário,
ao lado de cada caso de amor
impossível.

é isso.

E no dia que você lembrou meu nome, eu não acreditei. Você disse meu nome e eu me perguntei como e você disse que era tudo muito simples. E essas conversas que começaram em nenhum lugar para chegar a lugar nenhum. Não sei onde fico nessa história toda. Tenho gosto de goiaba na ponta dos dedos, agora. Não que eu goste do formal, do clássico, do engravatado. Não que eu goste das cores preta e vermelha combinadas. Não é que eu goste de tudo isso, mas por algum motivo, me encantei com você. Não que encantar seja a palavra certa. Acho que me afeiçoei a você. É, é isso. Não que eu olhe para sua pele extremamente branca, suas unhas meticulosamente bem cortadas e não imagine seu cheiro de sabonete fresquinho. Não é que eu não observe seus gestos calculados e suas palavras medidas centímetro por centímetro. Talvez você tenha chegado de uma maneira contrária a tudo que você é: desmedido, desprevenido, devastador. Uma invasão sutil através de horas de estudo a fio.

Não que tudo isso importe, mas achei que você deveria saber, de qualquer sorte.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quarta-feira.

"O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu"

Caio Fernando Abreu.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

pique-esconde.

pisei suave,
porque assim
você queria
quando eu
passasse.

floresci algodão,
porque não
sabia o que seria
quando os flocos
tocassem o chão.

respirei relva,
porque, antes
de ser sombra,
fui também lembrança.

falei baixinho,
porque você
só é silêncio
em qualquer
canto.

rabisquei recados,
arrisquei fotos,
atravessei o mato,
fui atrás de ti que,
no final das contas,
era apenas um felino,
apenas um gato.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

outros caminhos roseanos.

você: longe, de viagem,
distante, outros passos,
outros caminhos,
outras paragens.
você: cão sem dono,
hippie moderno,
itinerante de
outros tempos,
vindo do inferno.

você, que está só de passagem,
me esqueça por esses tempos
e me encontre na terceira
margem.

nostálgica.

vi um tapete longo
de flores brancas e
amarelas:
fui eu,
foi você,
foi setembro,

foi a primavera.

domingo, 11 de outubro de 2009

verdade.

quero saber que som tem a sua lágrima ao tocar no chão:
se é silenciosa ou vai mais além.

ex.

preferia quando era apenas uma imagem,
uma possibilidade de não-ser,
uma possibilidade
e não você.

preferia a cor da tarde de sol
de um domingo
a esse sábado chuvoso
que costumava ser meu
preferido.

preferia uma mentira fácil,
com perfumes fracos,
com memórias rápidas.

preferia isso:
não te conhecer
a você saber
que nem existo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Baú.

Achei que, entre
tantas outras
palavras, guardasse
um segredo.
Revirei livros,
rasguei páginas,
abri todas as portas:
assim, sem medo.
Depois de olhar
a última gaveta,
já não havia
quem soubesse,
já não havia
quem amasse,
já não havia
quem calasse,
esse segredo.

Alguém tem que ceder.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009